Dúvidas sobre viajar pela Ásia?

Pessoal… já vai fazer mais de 2 anos (!) que voltamos dessa viagem e continuo recebendo dúvidas de quem quer viajar… o problema é que em 2 anos minhas informações não estão mais atualizadas, e já esqueci muitas coisas que podem não estar no blog do tipo: que hotel ficamos em Hanoi? Na verdade se vocês me perguntarem algo, eu provavelmente vou ter que entrar no blog para pesquisar se eu escrevi sobre, então termino minha função aqui 😉

Por favor, consultem as dúvidas mais comuns que recebi durante o período do blog aqui: FAQ e que tal vocês escreverem o próximo blog sobre uma viagem pela Ásia?

Bjocas e boas viagens!! 😉

1 ano, 1 mês, 1 semana depois…

Esses dias me peguei lendo posts antigos do blog… coisas que sempre evitamos. Tenho na minha cabeça que não devemos ficar olhando para o passado – bom ou ruim – e sim se concentrar no presente. Fiquei com vontade então de escrever o famoso post “1 ano depois” – no caso 1 ano, 1 mês e 1 semana depois de ter voltado.

Depois que voltamos de viagem o Ro voltou para o antigo estúdio (cujas pessoas são extremamente queridas) e eu virei freelancer. 8 meses depois trocamos os papéis: eu comecei um trabalho fixo e ele virou freelancer. É engraçado, mas fui parar no Sindicato dos Bancários – como designer – e fiquei 4 meses lá até o telefone tocar: quer trabalhar na nossa editora? Quem me conhece bem sabe que meu sonho sempre foi ser designer editorial. Pela primeira vez na vida acordo sem reclamar porque sei que vou passar o dia fazendo alguma coisa que realmente gosto.

Faz um mês que estou lá. É uma editora de livros infantis e infanto-juvenis. Simplesmente juntou minha paixão por livros, design e ilustração. Sou responsável por criar os projetos gráficos dos livros, tem vezes que passo o dia inteiro lendo o texto para poder pensar no projeto, nos ilustradores que vou chamar… e isso é uma delícia! O ambiente é bem tranquilo, as pessoas são bem calmas e saio TODOS os dias no horário! (só quem é designer sabe o quanto é difícil achar um trabalho em que você não tenha que ficar quase todos os dias até tarde) =D

Estou me sentindo inspirada de novo, até voltei a desenhar nas últimas semanas. Chego em casa e quero pintar, ver documentários, ler… parece que com esse trabalho encontrei o caminho que tanto procurava. Tenho vontade de fazer minhas coisas de novo, de aprender e de melhorar na minha área.

O Rômolo também está levando a vida que sempre quis, pintando, fazendo as ilustrações dele… essa semana mesmo ele está pintando o Riviera Bar ali na Paulista com a Consolação, sabe? Quem estiver por aí passa lá na frente para conferir.

Essa viagem deixou marcas profundas na minha vida. Sou menos fresca, tento levar a vida da forma mais leve possível, sem acumular coisas… não trabalho para poder comprar uma TV bacana ou o telefone mais moderno… trabalho para poder levar uma vida sem preocupações e poder viajar quando eu quiser. Tenho um novo conceito de felicidade e esse novo conceito me diz que felicidade plena não existe, existem muitos momentos bons que formam algo perto da felicidade, e isso pode ser tomar banho num rio com um elefante ou simplesmente pendurar um poster novo na parede.

Tenho um novo conceito do medo e esse conceito me diz que medo é tudo aquilo que crio para me impedir de ser feliz quando eu quero. O Rômolo me disse que ouviu uma frase muito boa, que quando você viaja, você não cruza sua zona de conforto, na verdade você aumenta ela… Ir para o Vietnã me parece tão simples quanto ir para Ilhabela agora (guardadas as devidas proporções e gastos haha).

E agora… temos uma cachorrinha, a Bullying (que por sinal acabou de fazer coco na sala ¬¬)!

Conseguem encontrar a Bullying no meio da bagunça?
Conseguem encontrar a Bullying no meio da bagunça?

Depois que voltamos fizemos outras viagens curtas… fomos juntos pro Chile… passei 15 dias no Peru sem o Ro e o Ro 3 semanas na Europa sem mim… e as próximas?

Não sei… mas não estou ansiosa para saber, minha maior preocupação no momento é regar as plantas e não esquecer a raçãozinha da Bullying.

Simples assim.

Nos vemos… nas estradas do Laos ou nas calçadas esburacadas de São Paulo. =)

(o clip é uma merda, mas a letra é amável)

O que a viagem me trouxe e até a próxima!

Sou grande fã da pintora Frida Kahlo, adoro os quadros dela porque tem uma carga muito pesada ali, carregam uma história incrível que foram as tragédias da vida dela… Tem um quadro em específico de que me lembrei para escrever esse último post do blog… E o nome para português seria “O que a água me trouxe” (ou O que a água me deu).
É um quadro bem triste na verdade… porque é ela mergulhada na banheira e alguns momentos da vida dela que flutuam na água…
what-the-water-gave-me-1938Porra, na verdade é MUITO triste, porque eu coloquei isso aqui? rs…

Bem, quando eu penso no que a viagem me trouxe eu também poderia me imaginar mergulhada numa banheira com tudo o que me marcou flutuando… Vejo amigos, lugares, momentos e vejo uma porta aberta que se abriu com novas possibilidade, uma nova forma de encarar a vida que ganhei e que não há dinheiro que pague no mundo… um sonho que se realizou e que sem dúvidas vai seguir em frente… quero viagens longas como uma constante na minha vida.

Conheci pessoas muito especiais que já reencontrei algumas vezes… o Marcos que conhecemos em Chiang Mai e que vira e mexe saímos para tomar uma breja, o Fe e a Mari que moram em São Paulo, o Gus do Rio… a Kelly que vem nos visitar com Antonio na Copa… e vou falar também da Gisele que é uma das coisas que me deixam feliz em ter feito o blog. A Gi era uma das leitoras, já acabamos nos encontrando algumas vezes – ela até veio comer pad thai aqui em casa, rs… – e agora é a vez dela fazer a trip para a Ásia em janeiro de 2013! Muitas pessoas vieram me adicionar no Facebook também e vira e mexe trocamos uma ideia… Quer dizer… ganhei amigos indiretamente por causa da viagem.

Queria agradecer a todos que acompanharam o blog, todos os comentários me incentivando a continuar… Ja tive muitos blogs, mas esse é o primeiro que consigo ir até o fim!!!! Fecho esse blog com lágrimas nos olhos, emocionada por tudo “o que a água me trouxe”, e com o conselho clichê: Não deixem a vida passar!!!! não deixem, que a vida é curta e o mundo é grande… e fecho com uma frase muito verdadeira da Clarice Lispector: “Depois do medo, vem o mundo.”

Mil Beijos e uma vida doce para vocês!
Nã =)

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Buscando o caminho de volta

Depois de viajar esses meses descobri que o difícil não era partir: era voltar. Como seria esse choque, essa mudança de uma vida sem rotina, uma vida de descobertas diárias para a mesma vida que eu tinha antes, uma vida de trabalhos chatos, de stress, de frustração?

Perai, quem disse que eu ia voltar ao ponto zero?

Minha vida é o que eu quero. Essas conversas sobre a volta eram bem recorrentes com outros viajantes. No fundo dá um medo mesmo. E nos primeiros meses da viagem eu confesso que eu estava MORRENDO de medo de voltar. Estava tudo tão perfeito que acordar daquele sonho me assustava. Eu tinha pesadelos constantes em que eu voltava para casa e entrava em depressão. Acho que pensei tanto sobre isso com antecedência que fui me acostumando cada vez mais: eu ia ter que voltar sim, arranjar uma casa e um emprego para pagar o aluguel.

O que ajudou muito foi o fato de não termos gastado tanto nessa viagem quanto achávamos: eu tinha dinheiro para me sustentar por algum tempo sem trabalhar. E quero dizer aqui que eu realmente não havia considerado muito a grana da volta, mas hoje vejo isso como parte importante do planejamento. Você nunca sabe quanto tempo vai demorar para arranjar um novo emprego, então é bom ter alguma garantia, um dinheiro para poder fazer algum curso de atualização por exemplo.

Minha volta foi muito melhor do que eu esperava, lembro com uma saudade boa de todos os momentos que passamos, orgulhosa, satisfeita, feliz, com a certeza de que cumpri uma missão importante em minha vida. Felicidade é estar aonde você gostaria de estar e estou muito bem na minha amada São Paulo. Mas também tivemos essa grande mudança de eu ter saído da casa dos meus pais e voltado para morar com o Rô, então a volta para o Brasil foi como uma nova viagem, uma experiência nova.

As primeiras velhas novas impressões de Sampa…

As primeiras velhas novas impressões de Sampa…

Aprendi a redescobrir a cidade, ver com novos olhos, viajar dentro da minha própria cidade. Alugamos um apê no centro e agora a casa está aberta para CouchSurfers… Couch Surfing é muito bom não só para quem é recebido, mas também para quem recebe. É uma forma sim de continuar viajando, tenho vontade de explorar cada vez mais a cidade e poder compartilhar com quem vem visitar. Moro em São Paulo desde que nasci, mas só esse ano subi na Torre do Banespa, comprei pão dos monges no Mosteiro São Bento e fiz uma das aulas de dança gratuitas que sempre rolam na Galeria Olido. Só agora.

Tenho muitos amigos, muitos mesmo que sofreram demais com a volta. Alguns não encontraram emprego ainda [atualização: todos os amigos que conheci na viagem já estão trabalhando de novo ;] , outros encontraram mas estão achando muito difícil ter que lidar com a rotina… são reclamações das mais variadas, mas não há como prever o que pode acontecer. Também há outras amigos que estão satisfeitos de estarem de volta em casa, e assim como nós reservando energias para a próxima viagem… claro!

Se você voltar, você provavelmente estará voltando porque quer… quem quer ficar com o pé na estrada sempre acaba dando um jeito de se manter, de fazer contato, arranjar bicos… quantas pessoas não conheci que faziam isso? Seus desejos devem te guiar, você deve dirigir a sua vida de um jeito que faça você se sentir bem. Tenha paciência que isso é uma das coisas que só o tempo vai resolver.

Vai voltar, volte, mas venha com o coração aberto… sofrer pode fazer parte da volta sim. Mas você sabe que para daqui uns anos vai olhar para tras e ver que esse tempo que você passou viajando, valeu muito mais do que um ano que você poderia ter passado naquele emprego que você achava uma merda.

Viajando pela minha cidade…

Viajando pela minha cidade…

Uma vez fui assistir um filme que se chamava assim: “Viajo porque preciso, volto porque te amo.” Essa frase se encaixou com a minha (nossa) viagem. Eu preciso viajar. Eu nunca mais vou parar, tenho certeza. Viajar assim é um caminho sem volta, droga das mais pesadas. E eu vou voltar também. Porque também amo São Paulo, amo as pessoas que estão aqui, amo as esquinas da minha cidade, amo o Brasil, amo os brasileiros, amo ter um lugar fixo e agora eu consigo amar e viver uma vida de não-viagem. O que é temporário afinal, minha vida quando estou fixa ou minha vida quando eu viajo? E enfim, descubro que eu não preciso catalogar nada, que as duas vidas se alimentam porque estão interligadas. Eu não aguentaria passar o resto da minha vida viajando sem parar assim como não aguentaria passar o resto da minha vida trabalhando com férias de um mês. Revelação: minha vida pode ser o que eu quiser. Eu faço os meus caminhos.

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Bangkok: Lá e de volta outra vez

E lá estávamos nós de volta ao ponto zero da viagem: Bangkok meu amor. É muito estranho viajar para um lugar e voltar lá depois de um tempo, ainda mais estranho porque Bangkok foi nossa primeira e última cidade.

Quando estávamos em Pequim, nossa última semana na China depois de quase 2 meses, nós não víamos a hora de voltar para o Brasil. Estávamos realmente empolgados com a possibilidade de comer um pão de queijo, almoçar uma feijoada, tomar um guaraná e tomar brejas nos botecos sujinhos da cidade com os amigos. Fato: estávamos MUITO cansados da China. O Felipe e a Mariana – um casal de brasileiros que conhecemos em Chengdu e que já estavam na estrada há mais de um ano – pareciam estar mais empolgados que a gente. Os caras estavam indo para a Mongólia e falavam da nossa volta do Brasil como se estivéssemos indo para um destino super novo e incrível. O Felipe até parecia se emocionar quando dizia: “Poooorra, vocês vão comer aquele feijãozinho! Que sonho!”. Porra Felipe, vocês estão indo para a Mongólia! rs…

Mas afinal… não havia o Brasil se tornado um destino novo e incrível?

Pegamos um longo vôo pela Air Asia, trash né… Aqueles vôos baixo custo que cobram até para você despachar a própria mala.

Bem, foi na rápida conexão de três horas na Malásia, em Kuala Lumpur que o coração começou a fraquejar… Mas e se… a gente viesse passar um mês na Malásia? Foi o tempo de trocar uns dólares por uns ringgits para poder comprar um sanduíche e já chegava o nosso voo para Bangkok despedaçando os meus sonhos.

Sabe quando você se apaixona por uma pessoa, passa um tempo, vocês não se veem mais, e depois de anos, quando se encontram, é o mesmo frio na barriga? Bangkok. Eu não lembrava o quanto eu amava esse lugar depois de ter passado por tantas outras cidades incríveis. Mas não dá. Não sei se é o contraste com a China, mas Bangkok me pareceu muito mais incrível do que era antes. É aquela emoção rara que sinto em algumas cidades e que me faz ter vontade de chorar só por estar lá. Comer o pad thai de novo… até andar na Khao San Road, que eu achava que já estava de saco cheio, me emocionou. Parecia tudo novo mais uma vez e eu senti aquela força que me faz querer viajar mais léguas por meses.

No nosso único dia completo que tivemos lá visitamos a Bienal de Desenhos no Bangkok Art and Culture Centre, assistimos finalmente uma luta de muay thai e fechamos a noite comendo naqueles restaurantes podrinhos mas que têm o melhor pad thai do mundo.

Preciso falar do muay thay. Da primeira vez que chegamos em Bangkok nós não tínhamos o mínimo interesse em assistir luta. Nunca gostei de lutas e sequer considerei assistir um Muay Thai. Alguma coisa mudou nesse tempo. Eu não acho luta legal, mas consegui entender mais algumas coisas. Primeiro: somos humanos, somos animais, temos instintos e o mundo não é bonito, jamais será. Consigo entender o Muay Thai como parte da cultura e como reflexo dos nossos instintos. Acho que ir no Lumpinee Boxing Stadium e ver o modo como as pessoas ficam enlouquecidas na platéia, me mostra como a luta é um reflexo do animal que contemos dentro de nós. É parte do instinto do homem a luta corporal, mas é uma coisa que tentamos reprimir pelo fato de vivermos em uma sociedade, seria loucura tentar resolver as coisas desse modo. Quero tentar entender a cultura por mais bizarro e chocante que ela seja para mim. O fato dos chineses escarrarem no chão toda hora ou comerem cachorro não deve ser condenado, o Muay Thai também não. E foi com esse espírito que fomos assistir a luta.

O Lumpinee Boxing Stadium foi uma das experiências mais incríveis que tivemos na viagem. Pagamos 1000 bahts pelo ingresso, o mais barato que tinha, para assistirmos à luta no terceiro anel. Você também pode pagar 2000 bahts, vai ficar do lado de um monte de gringos, na frente do palco e nenhum local vai puxar assunto com você ou gritar no seu ouvido, ou seja: zero de emoção!
IMG_5586 IMG_5593Ficar no terceiro anel, implica em ter uma grade meio chata na sua frente, mas é onde a galera vai gritar, fazer as apostas loucamente e tentar conversar com você, acho que estar lá valeu muito mais do que ver a luta propriamente dita, você entra no clima e é um negócio meio Clube da Luta, as arquibancadas meio sujas, um lugar meio escuro, parece até que você está assistindo uma luta clandestina. É muito bom, dá uma adrenalina terrível ver a luta dali, coisa animalesca mesmo como eu disse antes. Bangkok fechada com a chave que eu não esperava.

Até o último momento eu ainda estava esperançosa de tentar convencer o Ro a viajar mais um mês. Chorei muito na última noite em que passamos em Bangkok, como quem está terminando um relacionamento mesmo. No dia seguinte, dia de pegar o avião, esfriei. Não chorei mais. Consegui entender que ainda teríamos que ter a chamada vida normal pela frente, e que eu não poderia considerar isso uma merda pelo resto da minha vida. Uma hora teria que voltar para a realidade não? A menos que eu decidisse passar anos levando uma vida nômade, mas eu tenho vontade de ter um lugar pequeno e confortável para receber os amigos, uma cozinha agradável para cozinhar e filhos para daqui uns pares de anos. Também não vou parar com as viagens jamais, mas tenho que conciliar isso com aspectos de uma vida tradicional e tornar a vida leve e doce. Lembro que o monge me disse que eu não devia me preocupar por antecipação, ficar ansiosa pelo futuro, que eu devia viver o presente. É muito óbvio e fácil dizer “viva o presente”, mas como fazer isso? Finalmente entendi. Acho que nunca estive tão conectada ao meu presente. Não quero vivê-lo mais em função de um futuro que eu espero acontecer. Passei meu último ano antes de viajar levando o presente nas coxas, pensando que eu só estava vivendo aquilo para esperar o futuro, a viagem. Foi meu último presente desperdiçado.
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Eu Made in China

Uma das coisas que mais aprecio ao viajar é a possibilidade de aprender mais sobre outras culturas de uma forma totalmente… interativa. Você não percebe que está aprendendo, mas está. Quer dizer… o que era a China para mim antes disso? A China na minha imaginação era um lugar tão zoneado e poluído que eu me imaginava andando com uma máscara de oxigênio por lá. A China para mim era o lugar de onde vinham todas as bugigangas do mundo. E agora?

Viajamos pela China e vi suas nuances. Andamos de bicicleta pelos campos e vimos pessoas muito pobres… andamos por cidades muito ricas com um prédio brotando em cada esquina. Conversamos com pessoas e pudemos ter um vislumbre do que é viver num país comunista – com censura e tudo o mais. Algumas tarefas simples para nós – como acessar o Facebook – são verdadeiros obstáculos para os jovens que vivem lá. Eu senti o medo dessas pessoas.

Visitamos os Museus e pudemos ver o poder e a influência do Partido Comunista, como eles podem moldar a História a seu favor, como eles controlam as pessoas com isso. Quem já leu 1984 do George Orwell vai ler a China nesse livro. Não há teletelas, mas quem for na Praça Celestial – depois de ter a bolsa revistada – vai ficar chocado com as grades que cercam a Praça e as câmeras vigilantes que a cobrem. O verdadeiro Big Brother.

Saí da China cansada… irritada por ser cobrada o tempo todo. Cansada dos chineses querendo tirar fotos nossas o tempo todo, de entrar num restaurante e ser a atração e de estar sempre sendo observada. Mas como posso condenar isso? Um país que há 30 anos atrás não tinha perspectiva nenhuma e que hoje caminha para ser a primeira economia do mundo. Um país que se abriu há tão pouco tempo e que olha agora fascinado e curioso para os turistas que passam por lá.

Saí da China com saudade… com gratidão por todos os chineses incríveis que cruzaram nossos caminhos, a chinesa desconhecida na rua que nos ajudou a pegar um ônibus em Guilin, o chinês que veio conversando conosco no trem para Pingyao, todos os chineses que tiraram fotos conosco e até os chineses que riram da nossa cara quando tentamos pedir comida no restaurante – e por que não, os chineses que nos ajudaram a pedir comida no restaurante.

Os chineses que nos ensinaram a jogar xadrez, o chinês que nos ajudou a chegar até o consulado para tirar nosso visto. Eu gostaria de saber os nomes de cada um deles, mas vocês sabem, é muito complicado. Vou guardar suas histórias.

Vocês conseguem entender? Sobre a China não se fala em um post. A China é uma relação de amor e ódio… e eu não vejo a hora de voltar para lá!

Havia uma Muralha no meio do caminho

A Muralha começou a ser construída em cerca de 221 a.C e demorou quase dois milênios para ficar pronta. Seu objetivo era proteger os chineses de invasões do povo do Norte. Ao contrário do que muitos podem imaginar, a Muralha não é uma construção única, são várias Muralhas. Há trechos em que precípicios e penhascos são defesas naturais, portanto não foi preciso erguer um muro como proteção.

Bem, nos nossos últimos dias havíamos ouvido todo tipo de depoimento sobre a Muralha da China… relatos de que era possível alcançar a Muralha através de transporte público mas com a condição de que se chegasse cedo para evitar as multidões, já que esse trecho era extremamente turístico e popular. Esse trecho facilmente acessível a partir de Beijing se chama Badaling e é totalmente restaurado, cheio de vendedores ambulantes e feito na medida para turistas. O Andrei – o brasileiro que conhecemos em Luoyang – havia feito um hiking pelo hostel Beijing Backpackers e era exatamente isso que queríamos: dar um rolê pela Muralha, não simplesmente chegar lá, fotografar e ir embora. Mas o trecho que ele havia visitado era restaurado e queríamos algo um pouco mais autêntico. E agora?

Abri o Lonely Planet e a indicação era um hiking por uma empresa chamada Beijing Hikers. O preço não era dos mais baratos, 350yuans (dá uns 56 dólares). Quer dizer, não era dos mais baratos se você comparasse com outros pacotes de $30 que vendiam por aí, mas já tínhamos ouvido muita história de que esses pacotes eram furadas, que os caras te levavam para visitar várias lojinhas de souvenir antes de chegar na Muralha, ficavam lá uma hora e iam embora. Tomem cuidado com isso! Meio receosos por causa do tempo que andava fechado e de céu branco, meio traumatizados com todas as experiências anteriores de ter ido em tours que eram uma furada, resolvemos confiar e fechar com o Beijing Hikers.

É claro que você consegue chegar nos trechos menos badalados da Muralha sozinho, mas de qualquer forma você vai depender de taxistas e de encontrar pessoas no caminho que te ajudem a chegar a esses lugares… O Lonely Planet (edição Maio 2011) tem um capítulo todo sobre a Muralha e como chegar nesses trechos menos pop e para ser bem sincera, tudo parecia meio complicado, com exceção do trecho Badaling como eu já disse antes.

Bom, o Beijing Hikers oferece diferentes trechos da Muralha, geralmente às Quintas, Quartas, Sábados e Domingos, tem que entrar no site para ver quais são as próximas datas. E os trechos que eles visitam sempre mudam. Na programação eles contam a história do trecho a ser visitado e o nível de dificuldade e vou te dizer: sob um sol de 40graus pode não ser tão fácil quanto parece, tivemos uns velhinhos no nosso grupo que quase sucumbiram.

O trecho que fizemos pode estar disponível quando vocês forem ou não… nunca se sabe. Escolhemos um tour no sábado chamado Gubeikou Great Wall Loop, quando vimos que a descrição do trecho começava assim: “Se você não é bom com alturas não recomendamos essa seção da Muralha” pensamos: É esse mesmo!

No e-mail que eles enviam com a confirmação de que você está no grupo, há também recomendações do que levar – protetor solar, uma mochila para carregar água, lanchinhos e outras dicas amigas. Passamos no mercado um dia antes para comprar algumas coisas para comer, a água eles fornecem. Olha… vou te dizer que eles fizeram cada pessoa carregar 8 garrafas de meio litro cada na mochila e mesmo assim a nossa água acabou. E posso dizer? Foi demais!!!

Os caras eram super atenciosos, os guias eram um inglês, uma americana e um jovem chinês… ônibus bom, deram chocolatinho e tudo mais. Ufa, finalmente fomos mimados na China! E o que dizer do trecho Gubeikou que visitamos na Muralha?
Uau. Um muro nunca foi tão incrível. A maior parte dessa seção não é restaurada… é engraçado que você caminha pela Muralha e nem percebe que está na Muralha, o chão é meio de terra e pedra… usamos nossos tênis de sempre e embora eles recomendem calçado específico para Hiking não tivemos nenhum problema.

É como se a Muralha fizesse parte natural daquela paisagem, ela estica até onde a vista alcança. É impressionante mesmo, emocionante caminhar numa das Maravilhas do Mundo e pensar em todo o trabalho humano para se erguer uma estrutura como essa.

E essa vista?

O interessante desse hiking é que você não precisava andar em grupo o tempo todo, uma guia ia na frente, outro no meio e um fechava a fila. A guia da frente ia colocando umas fitas vermelhas pelo caminho quando havia dúvida de qual trecho seguir… sim, ao contrário do que muitos pensam a Muralha não é um caminho óbvio, há alguns pedaços em que você realmente fica confuso.

O legal disso tudo é que às vezes eu e o Rô ficávamos bem afastados de todo mundo e parecia que só havia nós dois na Muralha. Também estávamos andando bem devagar, atrás da gente e bem longe só tinha o casal de vehinhos com o último guia. Cansa? Cansa! A aventura durou cerca de 3 ou 4 horas, fizemos várias pausas para comer algumas das coisas que havíamos trazido, para descansar e tomar uma água, porque estava quente mesmo! A Muralha é intercalada por torres de observação que estavam bem detonadas, algumas cheias de destroços e era lá que tínhamos sombra fresca.
Quando eu já estava começando a achar que não ia conseguir mais e minha água já pingava suas últimas gotas era hora de voltar, quer dizer: para mim esse tempo foi mais do que suficiente. Ah, detalhe: não tem nada de barraquinha para comprar água no caminho… se cruzamos com umas 3 pessoas que não faziam parte do grupo foi muito. Depois disso descemos por um trecho da Muralha, voltamos para a van  e fomos almoçar num restaurante muito bom! Incluso no preço.

Andar na Muralha do jeito que fizemos, foi definitivamente um presente para fechar a viagem com chave de ouro. Foi lindo, muito mais lindo do que eu esperava. O céu finalmente brilhava azul.

Beijing código 798

Bem, enquanto percorríamos a China, antes de chegar em Beijing, cruzamos com vários viajantes que possuíam um conselho que fazia os olhos de quem contava brilhar: “Vocês TEM que ir para o 798!”. O que a princípio parecia ser um código secreto aos poucos foi ficando mais claro: o 798 é uma espécie de bairro incrível das artes de Beijing… Vamos pensar em uma Vila Madalena de São Paulo só que em ruas que abrigavam um antigo complexo de fábricas… chaminés, maquinarias desativadas e paredes com os tijolos expostos que guardam dentro de si mundos coloridos.
Nas ruas do complexo, arte inusitada para tudo quanto é canto, as esculturas mais cool que eu já vi junto à paredes desenhadas que pareciam querer gritar alguma coisa.

Construído nos anos 50, o 798 era uma das fábricas militares responsáveis pela fabricação de eletrônicos. Depois de abandonado, artistas começaram a usar esses espaços como ateliês e hoje galerias, cafés charmosos e lojinhas com bugigangas descoladas autenticamente Made in China compõem um universo bastante inusitado. Bem vindos ao 798, o Distrito das Artes!

Para chegar até lá, há várias opções de ônibus, o Lonely Planet indica pegar o metrô até a Sanyuanqiao Station e depois pegar o ônibus 401 até Dàshanzi Lukonuan. Nota: Os ônibus tem um marcador de cada ponto em que para, as luzinhas vão se acendendo… Então você pode ficar de olho para poder descer, mas é sempre bom levar o nome do lugar anotado em um papelzinho.

Fiquei só um pouco decepcionada com as lojinhas… estávamos no fim da viagem e na pegada de levar algumas lembrancinhas bacanas, mas não encontramos nada muito surpreendente que já não tivéssemos visto antes… Cavando muito é possível tirar alguma coisa de lá, mas ainda sim, muita coisa que eu acabei vendo no bairro da Liberdade (em São Paulo) depois.

A maioria dos restaurantes são caros, muito caros mesmo… No primeiro dia em que visitamos o 798, acabamos comendo num lugar caro, mas no segundo dia – sim, nós fomos lá duas vezes! – conseguimos encontrar alguns restaurantes mais em conta em ruelas estreitas. O bairro é bem grande, e vale muito tirar um dia para explorar todas as suas galerias.

Xinglingling: em Beijing!

Olha só gente… vou pedir desculpas desde já, mas os posts de Beijing estão meio desfalcados em relação à informações de como se chegar aos lugares ou valores de comida, ingressos, etc., porque só estou escrevendo ele hoje – dia 4 de outubro – ou seja: 3 meses depois de ter voltado da Ásia! Posso recompensar colocando mais fotos do que o normal?

Começamos com os clássicos da cidade, aquelas atrações que se você contar que foi para Beijing e não visitou, vão te olhar torto e dizer: “Então você não foi para Beijing!”

Water Cube e o Bird’s Nest
Tanta coisa para fazer em Beijing… e na primeira noite resolvemos visitar o famoso Cubo D’Água e o Ninho de Passarinho, ambos construídos para abrigar as competições olímpicas em 2008. À noite é bonito de lascar… não chegamos a entrar, mas a grandiosidade do Parque Olímpico com os ginásios iluminados, faz o céu escuro mais bonito. Mesmo com chuva.
Oh yeah! Fácil de chegar, tem uma estação de metrô que te deixa na cara!

Summer Palace
A corte imperial também tem que descansar, e em vez de uma casa de praia com vista para o mar, porquê não um complexo de jardins, pontes, pavilhões e corredores em volta de um gigante lago artificial? Soa muito megalomaníaco? Na China é assim!

Apesar do nome – Palácio de Verão – no dia em que fomos visitar o complexo, não achamos tão Verão assim… explica-se: estávamos debaixo dos famosos céus poluídos brancos de Beijing.

Tá vendo alguma coisa? Bemmm lá no fundo?

Comprando o ticket simples você tem acesso ao complexo… mas não tem acesso à outros lugares fechados lá dentro. Você pode optar por comprar o ticket simples e pagar individualmente por esses lugares fechados ou pode comprar o ticket completo, que é mais caro e te dá acesso a todos esses outros lugares fechados. Nós optamos pelo ticket simples e pagamos apenas para visitar o Temple of Buddhist Incense que oferece aquela vista arranca-toco do topo. Um céu azul e um sol amarelo não fariam mal, juro!
O complexo é enorme… se você tiver pernas fortes e disposição… dá para passar sim o dia inteiro lá passeando! Você pode percorrer o perímetro do lago a pé, ou pode alugar um barquinho para cruzar o rio.

O marble boat (barco de mármore)

Eu já contei mais de mil vezes que nós já tivemos uma overdose de templos chineses antes de chegar em Beijing, mas ainda sim o Summer Palace tem alguns detalhes que tocam até a vista mais enjoada.

Não toca?

O Imperador mal sabia que um dia poderia chegar de metrô no Summer Palace. Só descer na estação Beigongmén e dar uma andada rápida.

Forbidden City
A Cidade Proibida, já não mais tão proibida assim… Ai se o Imperador dá um flagrante numa cena dessas:
Cabeças vão rolar. A Cidade Proibida é uma loucura de multidões. Ponha a meia de algodão, o óculos de sol e encha seu espírito de paciência. Sério, isso bodeou muito. Confesso que ir na Cidade Proibida foi muito mais uma obrigação do que um prazer. Cruzamos meio sem paciência por ela e foi um alívio se livrar das multidões. Não quero que vocês achem que estou brincando, mas deem uma olhada:
Aha! Achou que ia tirar uma foto sozinho com a Cidade Proibida no fundo né? Calma, você ainda tem chance. As pessoas se amontoam em lugares específicos, por vezes é possível ter alguns momentos de escape – e poesia – em plena Cidade Proibida.
E aqui vai uma dica-amiga: ao sair da Cidade Proibida, cruze a rua e dê uma passada no Jingshan Park, subindo até o topo do morro que tem lá. Nosso melhor contato com a Cidade Proibida, foi a vista livre que tivemos lá de cima.

O amiguinho aí já entendeu como ver a Cidade Proibida sem ser importunado.

Temple of Heaven

Ops! Agora podem me olhar torto e dizer que eu não estive em Beijing, não visitamos o temple of Heaven. Fica para a próxima! 😉

>>>> DICAS
É verdade que chegar cedo nos lugares evita as multidões? Pode ser que evite sim, mas não por muito tempo. Chegar cedo vai te dar apenas alguns minutos a mais de ar puro e vai te deixar de mau humor pelo resto do dia por ter acordado cedo. Vale a pena? Eu e o Rô desistimos de lutar contra as multidões, tem que ir para o lugar sabendo que você vai encontrar milhares de turistas e… paciência! A China é dos chineses.

Cotinuamos nos arredores de Beijing nos próximos posts!

O que tem de errado nesta imagem? Resposta: Uma chinesa andando sozinha.

Pondo a China na balança

Eu confesso: eu não estava preparada para Beijing. Também vou confessar outra coisa: Quando chegamos em Beijing nós não aguentávamos mais a China! Nunca sentimos tanta vontade de ir para casa. A curiosidade dos chineses em relação a nós já não era mais tão engraçada. Era chato saber que o tempo todo éramos foco de atenção, embora em Beijing tenha sido mais tranquilo. Não aguentávamos mais a comida, pela primeira vez durante todos esses meses fizemos refeições no Mc Donalds, ou seja: olha o nível da situação. Já estávamos bem cansados de tentar nos comunicar. Sabe a comparação que eu faço? A de um relacionamento que vai às mil maravilhas no início e depois de alguns meses você começa a perceber os defeitos, a achar tudo um sebo. =(

Esse foi o nosso problema: conhecemos a China demais. Não me arrependo. Na verdade ainda quero muito voltar para China, quero conhecer outras regiões mais distantes, quero ver outras coisas que não tivemos tempo de ver… A China, é incrível! Mas cansa um pouquinho, rs… O nosso outro problema foi ter deixado Beijing para o fim, depois de ter rodado por tantos templos, nem o Summer Palace nem a Cidade Imperial tiveram um sabor especial, foi um sabor de “mais um”. Nem o Temple of Heaven escapou dessa, estávamos tão bodeados de templos que resolvemos pular o coitado. Mas…

Mas. Tivemos grandes momentos inesperados em Beijing. Visitar o 798, o famoso distrito de arte, foi uma surpresa muito agradável. Fazer um hiking na Muralha, numa parte mais afastada foi para mim um dos ápices da China. Há quem diga que a Muralha é só um muro, mas… que muro!

Em Beijing nos hospedamos primeiro no Leo Hostel. Odiei. Muito barulhento, clima de balada desde cedo, banheiros fedidos mas localização ótima, fomos a pé desde lá até a Cidade Proibida, sem contar que os hutongs ao redor são ótimos e o transporte público também é bem servido. Depois acabamos nos mudando para o (esqueci o nome haha =/) hostel em que a Mari e o Fe – um casal muy querido de brasileiros que conhecemos em Chengdu – estavam. A companhia deles foi ótima, agora para quem está viajando sozinho… não recomendo ficar lá, a área social é muito pobre, meia-noite você é expulso do barzinho, ou seja: totalmente o oposto do Leo Hostel!

Os dias em Beijing foram agitados, sabe tanta coisa para fazer que no fim você não consegue fazer nada? Vocês podem ter me achado reclamona hoje, mas vão ver nos próximos posts que no fim conseguimos tirar o máximo proveito de Beijing, o ponto final de uma viagem de 45 dias pela China!